Cultura



UM TALENTO POTIGUAR

GALVÃO FILHO


Cantor, percussionista, poeta, artista plástico e compositor. Quer mais?





Severino Galvão Filho, filho do eterno Rei Momo de Natal Severino Galvão, nasceu em 8 de setembro de 1959, no Alecrim. 

Tendo origem numa família de músicos, crescendo na companhia dos irmãos Babal, Eri Galvão, João Galvão, conviveu com a música e ouvindo o que melhor havia em nosso cancioneiro popular.
Começou menino sua vida artística quando ganhou de sua mãe um pandeiro. Frequentava os terreiros natalenses para aprender a manha do atabaque. 

Quando o tocador se ausentava e pedia para Galvão assumir o instrumento era só felicidade. Era tudo o que queria. Enveredou pela pesquisa de nossa cultura popular, pesquisando ritmos naturais do seu querido RN. 

Em fins de 1970, início de 1980, fez parte do grupo “Bando de Natal”. Participou do Projeto “Seis e Meia” com o cantor e compositor Xangai. Apresentou-se em shows com João do Vale, Marinês e Sua Gente, Cascabulho, Zé Ramalho, Zeca Baleiro, dentre outros.

A partir de 1975 dedicou-se à pesquisa e a percussão. Ao Coco de Zambê dedicou-se especialmente. É um defensor intransigente dos artistas simples que se dedicaram á preservação de nossa cultura popular. Em “Reza”, uma de suas belas composições reverencia: Chico Santeiro, Chico Antônio, Chico Traíra, Jorge Fernandes, Zé Minininho, Fabião das Queimadas, Severino Galvão, Araruna e Boi de Reis.

Galvão Filho trata com respeito merecido seu violão, tirando som aveludado fazendo acompanhar com naturalidade sua voz doce e impactante. Suas letras são poemas com cheiro de terra e povo, perfumado pela raiz cultural de uma gente talentosa e pouco valorizada por quem deveria cuidar. Pelo menos foram colocados em determinados cargos para isso.
São muitas suas composições. Destacamos aqui algumas: A Energia dos Cristais (gravada também por Alcimar Monteiro), Açude de Luz, Cantar, Coisas de Amor, Na Palma da Mão, Coco Zambê. 

Qualidade é que não falta. Artista eclético, viajando dos poemas em forma de música à arte plástica.
Reverente à Câmara Cascudo, mais valorizado lá fora do que por aqui, Jackson do Pandeiro, um ícone de talento reconhecido no país inteiro em épocas passadas, mas esquecido pela geração atual, massacrada pelo consumismo sem responsabilidade, onde a falta de qualidade musical é reverenciada.

Sua discografia consiste em “Na Palma da Mão”, lançado em 1999 e “Canto do Seridó”, lançado em 2000. Absolutamente imperdíveis. Do xote ao maracatu, com grande pitada pop, Galvão Filho faz do seu imenso talento algo simples e fácil de gostar, de digerir. Introduz rabeca, contrabaixo, violoncelo, clarinete, instrumentos de percussão conduzidos com maestria e criatividade, além dos tradicionais e regionalíssimos instrumentos característicos da região nordeste. Taí. Talvez, o seu grande segredo.
Galvão nos próximos dias estará lançando seu terceiro CD, trabalho aguardado com muita expectativa. Promete surpresa. Vamos aguardar sem esconder a ansiedade.

Galvão Filho, na companhia de Almir Padilha, deu um show no programa Sábado É nosso, na Rádio *& FM, de sábado passado. Tocou, ao vivo, várias de suas composições, contou histórias deliciosas de sua vida no Alecrim, das músicas compostas como a maravilhosa “Na Palma da Mão”, música apresentada na Praça do Relógio no Alecrim no dia em que Natal parou e recebeu a caravana das “Diretas Já” com a presença de Tancredo Neves, Ulisses Guimarães, Teotônio Vilela e tantos outros políticos de vergonha, como não se fazem mais, Fafá de Belém cantando o hino nacional numa capela maravilhosa, daquela manifestação de amor cívico, pelas mudanças ansiadas por um povo oprimido. Bons tempos aquele onde a classe política era respeitada, pelo menos e m sua grande maioria. 

Galvão Filho foi um dos representantes potiguares naquele acontecimento. Conta que quando subiu naquele palco, não conseguia identificar onde acabava a multidão. “Talvez tenha sido a maior emoção que vivenciei” Galvão canta um dos grandes sucessos de Almir Padilha, filho de Parnamirim, “Saudade D’Ôce”, regravada no CD que vai ser lançado nos próximos dias. 

Galvão Filho, o talento potiguar nato, tão pouco aproveitado e valorizado pelos gestores públicos, que se esquecem, ou não sabe que cada real destinado à cultura retorna 3 vezes mais.
Ignorância que agride o talento, que sobrevive pela inteligência poética de um povo que por si só basta ser amado e reconhecido. Que se diverte trocando notas musicais, descobrindo ou inventando palavras que fazem rima, que expõe a sensibilidade através de sua arte, sua grande arma, que só detona sabedoria. A maneira menino de uma roda de bamba onde a amizade impera, sem vaidades, onde o que vale é o que o que se tem a presentar, onde todos se deleitam.

Que Deus abençoe sempre esse povo talentoso, 
os artistas de nossa terra, que lhes dê força para resistir, que jamais lhes falte inspiração e não deixe jamais desistir. Os verdadeiros heróis da resistência.