ZÉ BIGORNA




QUEM QUER SABER A OPINIÃO DESSE IMBECIL??????



Quem é Zé Bigorna? Você conhece tal intrigante criatura? Não? Aqui vão algumas características deste “cabra”. 

Homem simples, pouco estudo, trabalhador, mas não é do PT, meio desleixado em seu aspecto físico, bom garfo cultivando o péssimo hábito de palitar os poucos dentes que lhe restam, seu maior patrimônio, direto ao falar, sem papas na língua como se diz por aí, com humor por vezes mordaz. Adora um papo de botequim, mas bebe pouco. Zé Bigorna é de fácil irritabilidade quando o assunto lhe desagrada. Nascido não se sabe onde embora jure que foi em Eduardo Gomes, antes da guerra, de ventre alheio indefinido, sem parentesco conhecido. 


Não sei quem o trouxe por essas bandas, como tantos perdidos por esse mundo de meu Deus. Nunca casou com medo de levar chifre. Não atentou para o fato de que chifre voa e cai na testa do desavisado, como por encanto. Como bosta de passarinho. Apesar das cismas tem muitos amigos. Alguns, claro, infiéis. Assuntos que mais gosta: quenga e política. Assuntos similares para alguns, complementares para outros, sem distinção para muitos. Zé Bigorna se acha PHD nos dois temas. Confia mais nas quengas. Embora negue, gosta de opinar e “com conhecimento de causa” como declara com falsa modéstia, fazendo ar de timidez fingida. 


Parnamirim é o seu palco preferido. Fica perplexo com o que acontece por aqui. Já se mudou jurando nunca mais voltar: “Aqui a safadeza é demais!“. Ia mas voltava: “Vou dar nova chance, quem sabe melhore”. Como se a cidade se importasse com isso! Queria era mesmo saber dos absurdos para se coçar irritado. 


Contorcia-se em cólica virtual, imaginária. Quantos que aqui moram não desenvolveram a mesma “doença”? Zé Bigorna não tem jeito. Do portão de sua casa humilde, ou na sua cadeira velha precisando de reforma (ou preferencialmente de uma nova), posicionada estrategicamente colocada na calçada, ou caminhando pelas tortuosas e pouco iluminadas ruas da cidade, observa com atenção tudo que acontece. Lê pouco por motivos óbvios, mas a sensibilidade do seu nariz em farejar o que não presta é apuradíssima. 


Esse é o Zé, como tantos outros Zés, mas com uma diferença: seu sentimento de cidadania continua aflorado e seu sentimento de indignação ainda resiste em existir. Zé Bigorna com olhar distante sempre diz que: “Por Parnamirim vale a pena ter esperança”. Essa é a razão da renovação dessa vontade de ficar. Nos próximos números ele vai falar.









Horácio, o viajado.


Zé Bigorna na sua cadeira de balanço, tomando a fresca da tarde, assuntando com seus botões, poucos é verdade, em sua camisa rôta pelo sabão de coco e pelo tempo.

Gente indo e vindo, um “bom dia” daqui, um “boa” de lá, e lá se ia a manhã, a tarde, a noite. E a cadeira lá, balançando como por encanto.

Ignácio Loiola (fazia questão do g), que Bigorna gostava mudar o chamar para Ignácio Boiola, pura provocação que não colava, amigos de longa data, chega e puxa conversa.

- E aí Bigorna? Alguma novidade?

- Por aqui? Tudo velho. Nenhum corno novo no pedaço. Não que eu saiba, apenas desconfio...

Não contendo a curiosidade Loiola arrisca: - Pode adiantar a desconfiança?

- Não, só quando tiver certeza, com aquele olhar maroto e a risada escancarada, de boca aberta. Dente mesmo que é bom, só os dois zagueiros.

Inácio volta: - Zé sabe o Honório, aquele que viveu nos States?

- Sei. Como era mesmo o nome da cidade que ele morou? Lembrei. Era Orraio, Orraiokiusparta.

- Não Zé. Ohio era o nome do estado de lá. Deixa de ser burro!

- Não, não, não, era Orraiokiusparta mesmo. Ao lado de OrraioKiuspariu. Vizinhas. Tinha um rio que separava as duas. Me lembro bem o que Honório contou. Ele só viajava de excursão pra pegar as velhotas.

- Tá bom! Tá bom! Ele falou que por lá tinha um prefeito muito doido. Pegou um cara, que não era médico, nem cirurgião, nem entendia nada de medicina, sua arrogância não tinha remédio e colocou ele como secretário de saúde! Isso nos States. Imagine só!

Zé nem se abalou: - Ele devia tá certo!

- Como assim Zé Bigorna? Inágcio já se alterou querendo prolongar a discussão.

Naquela simplicidade de definir sem deixar margem de discussão Zé Bigorna sentenciou: - Qual é a novidade? É que nem aqui. Ele queria era um operador!







A mulher do vizinho.


Zé Bigorna pode ser acusado de muitas coisas. Grosso, sincero ao extremo, debochado, cínico, mas respeitar a mulher do próximo ele faz questão de fazer. Sempre! Principalmente quando o próximo estava bem próximo. Não entendia nem aceitava o galanteio descarado, insidioso do sujeito espaçoso, muito menos a tolerância do dono do “material” quando observava o jeito oferecido da patroa. E a correspondência da desavergonhada nas barbas do “proprietário” deixava Zé Bigorna boquiaberto, e isso não era coisa bonita de se ver.

Quanto mais, digamos, veterana, mais oferecida. A experiência acumulada da prospiranha fazia envolvê-la numa falsa redoma que a protegia do descarado ofertório para braços alheios. Braços e outras coisas também. Mãe de família, posição na sociedade, origem, marido, nada é empecilho para uma escapadinha básica. O sabor da aventura é estímulo certo.

Zé Bigorna fica pensativo. Já viu de tudo. Até marido emprestar a mulher para se manter na crista da onda. Pena que o tempo passa e os encantos escoam pelo ralo. Mas aí, o patrimônio já foi formado. Que sorte!